quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Barquinho que vais passando

Escrevi este poema há mais de um ano, mas só dele me lembrei por ocasião do naufrágio e publiquei-o então num dos meus blogues. Houve nessa altura alguém que o leu e copiou para outro blog, alguém que sabia do acontecido e que deve ter pensado que o escrevi a pensar nos dois rapazes, pois publicou-o aludindo ao naufrágio dos dois.
Resolvi dedicá-lo realmente ao Amâncio e ao Gilberto, como singela homenagem.


Barquinho que vais passando
No rio da minha terra
Quantos sonhos vais levando
Quantas marés vais matando
Como se foras pra guerra?

Lentamente, lentamente
Olho o rio e olho o mar
Na distância de um batel
Que nunca me leva nele
Por ter medo ao meu olhar.

Olha o barco sem barqueiro
Que vai vogando no rio
Onde está o marinheiro
Destemido e aventureiro
Que matará meu fastio?

O rio passa e não passa
Só eu passo e ele não
Que meu sonho o embaraça
E ele finge ser vidraça
Com cortinas de ilusão.

Olho o barco, olho o rio
Olho as vagas uma a uma
Será que aguento o fastio
Sem temor nem arrepios
De vogar por esta bruma?

Tanta bruma e nevoeiro
Que engolem o meu barquinho
Onde está o marinheiro
Destemido e aventureiro
Que guiará seu caminho?

Lentamente vai vogando
De encontro às marés
Que me chamam, pranteando
Os sonhos que vou deixando
Nas quimeras que não vês…

(Felipa Monteverde)

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