quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Naquela janela virada pro mar



Cem anos que eu viva não posso esquecer-me
Daquele navio que eu vi naufragar
Na boca da Barra tentando perder-me
E aquela janela virada pro mar

Sei lá quantas vezes desci esse Tejo
E fui p´lo mar fora com a alma a sangrar
Levando na ideia uns lábios que invejo
E aquela janela virada pro mar

Marinheiro do Mar Alto
Quando as vagas uma a uma
Prepararem-te um assalto
P´ra fazer teu barco em espuma

Repara na quilha bailando na crista
Das vagas gigantes que o querem tragar
Se não tens cautela não pões mais a vista
Naquela janela virada pro mar

Se mais ainda houvesse mais fortes correra
Lembrando-me em noites de meigo luar
De uns olhos gaiatos que estavam à espera
Naquela janela virada pro mar

Mas quis o destino que o meu mastodonte
Já velho e cansado viesse encalhar
Na boca da barra e mesmo defronte
Daquela janela virada pro mar

Marinheiro do mar alto
Olha as vagas uma a uma
Preparando-te um assalto
Entre montes de alva espuma

Por mais que elas bailem numa louca orgia
Não trazem desejos de me torturar
Como aquela doida que eu deixei um dia
Naquela janela virada pro mar

(Frederico de Brito)


Naqueles dias a seguir ao naufrágio esta canção, escrita por Frederico de Brito e interpretada pelo saudoso Tristão da Silva, não me saía da ideia. Dolorosamente lembrando um naufrágio, não sei se real ou não, ela me falava e acalmava o coração. Procurei a letra na internet e publiquei-a num dos meus blogues. Publico-a também aqui, lembrando o naufrágio destes dois jovens tão apaixonados pela vida...

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